Ao mesmo tempo em que descobriu esse açúcar, Joel também pensou em alternativas que promovam um melhor aproveitamento dos alimentos, com foco nos pequenos agricultores, já que segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mais de 60% da produção nacional de banana vem da agricultura familiar.
Agora, o próximo passo é divulgar esta descoberta pelo Paraná pela primeira vez. Será realizada uma itinerância que compartilha o conhecimento para outras famílias e agricultores familiares que queiram aprender a fazer o aproveitamento integral da banana, produzir seu próprio açúcar e ter uma nova fonte de renda extra. Por isso, o projeto “Família Banamel” deve rodar, com o auxílio da produtora cultural Lara Jacoski, da tecnóloga de alimentos Adriana Menegaro e do engenheiro ambiental Giordanno Brunno, em dez municípios do interior do Paraná, além de eventos de finalização e apresentação de resultados nas cidades de Curitiba e Francisco Beltrão.
Para Lara, que trabalha com comunidades tradicionais e indígenas há mais
de 10 anos, a descoberta do professor Joel é uma afirmação de que os saberes
comunitários e ancestrais devem ser preservados e respeitados.
“As pessoas que estão em contato direto com a terra e com os fazeres
manuais têm o conhecimento da prática e do dia a dia em suas pesquisas",
afirma.“O saber transmitido pelo professor Joel traz uma conscientização que
nos conduz a repensar e refletir sobre nossas relações, cativando a fazer novas
escolhas, para novas formas de habitar o mundo”, diz.
Aliás, a história da “Família Banamel” exemplifica a força da economia
de impacto em uma comunidade onde os desafios sociais e ambientais são cada vez
mais urgentes devido ao uso desenfreado dos agrotóxicos e o avanço da pecuária
intensiva.
“A ideia de desenvolvimento sustentável e crescimento econômico, como é
atualmente concebida, está em conflito com os limites ecológicos do planeta. É
necessário repensar nosso modelo econômico e adotar abordagens que priorizem a
regeneração dos ecossistemas, a equidade social e o bem viver humano",
completa Lara.
Além dos saberes, nos encontros organizados pelo Paraná, também haverá o
lançamento do livro “O Professor e a Banana". Escrito por Lara em
colaboração com Joel, a publicação narra a descoberta e a história de Joel,
além de mostrar as diversas possibilidades de aproveitamento da fruta.
Outros produtos
Para além do açúcar, as invenções de Joel passam por alguns estágios
onde a banana pode ser reinventada e comercializada para gerar renda. Ao todo,
são 12 fórmulas para melhor aproveitar a fruta madura e doce, ou então verde.
Da banana madura, no processo que separa o líquido da banana de sua
massa, por exemplo, se faz o melado de banana apelidado de “Banamel”, um
produto semelhante ao mel. Durante o processo de fazer o “Banamel”, outras seis
formulações também podem ser feitas: o “Banasuco”; “Banagre”, um vinagre;
“Banagute”, usado como chá; “Banamousse”, como uma geleia; “Banacreme”, uma
massa fibrosa para receitas culinárias e o “Banapasta”, resíduo pastoso
possível de transformar fertilizante natural, alimentação para animais e até
utensílios domésticos.
“É importante frisar que o produto ‘Banamel’ é parte do projeto, que
abrange alimentação e agricultura. Ele é um convite de aprendizado sobre o
aproveitamento total do alimento. Ou seja, é sobre o processo, e não exatamente
o como se faz", afirma Joel.
Já da banana verde, é possível realizar outras 5 formulações. Como por
exemplo, a “Banacódea”, que é a parte da banana entre a polpa e a casca, que
quando processada origina um produto com aparência semelhante à carne desfiada,
como a jaca verde, alternativa em muitas receitas vegetarianas e veganas. Ou
ainda a “Banarinha”, que é a farinha de banana obtida quando desidratada e
moída.
Comprovações Científicas
As pesquisas e estudos do professor Joel chegaram aos núcleos acadêmicos
do Paraná e hoje são objetos de estudo. É o caso da tecnóloga em alimentos
Adriana Menegaro, que em 2024 fez a análise do “Banamel” como composição de
xaropes produzidos a partir de bananas em sua dissertação de mestrado pela
Universidade Tecnológica Federal do Paraná de Francisco Beltrão. Segundo
Adriana, a descoberta de Joel mostra como um saber tradicional pode dar origem
a um ingrediente com valor tecnológico, nutricional e comercial.
“A partir do conhecimento do Professor Joel, conseguimos padronizar o
processo, caracterizar suas propriedades e transformar o que seria descartado
em uma solução alimentar funcional, gostosa, acessível e cheia de identidade”,
afirma.
As descobertas do Professor Joel não apenas despertaram curiosidade
técnica, mas também geraram um campo inédito de investigação científica.
“O Banamel, é um açúcar líquido, considerado um xarope natural criado a
partir da bananas maduras, e é fruto de uma prática tradicional que, até então,
não havia sido sistematizada ou analisada sob critérios científicos",
completa Adriana.
Agora, o próximo passo é que a descoberta possa ser aplicada também em
políticas públicas de aproveitamento de alimentos, inclusão produtiva rural e
alimentação escolar.
FONTE: BRUNA ALCANTARA - PRODUZIDO NO SITE PORTAL IBAITI