ARTIGO: Dor e sofrimento

* Vicente Estanislau Ribeiro

A Bíblia diz que há fardos que devemos carregar e outros que só o Senhor pode carregar.
O por quê uns sofrem mais e outros menos? Geralmente, são pessoas do bem e de um coração sem tamanho, de índole generosa que acabam sucumbindo.
Não que os maus não sofram, mas parece que nem gripe eles pegam, imagine outras coisas então? Até imunes aparentam que estão. Tem até um adágio popular para essa diabrura: “praga ruim nem geada mata”.
Quantas e quantas pessoas ‘boas’ que estão sofrendo num leito hospitalar ou em sua casa.
São inúmeros, os casos. Recordo alguns deles.
Quem não se lembra da alma generosa que foi o saudoso médico Dr. Haroldo Bianchi que tantas vidas salvou, inclusive a minha, tendo passado por mais de uma década em uma cama, sofrendo uma vida vegetativa.
Esse profissional exemplar, humanitário, cristão e benfeitor, sempre atendia, com dinheiro ou sem, quem dele precisasse, principalmente os mais carentes.  Com certeza, não merecia passar o que passou em função de seus atos, obras e ações em vida. Poderia ter tido uma melhor sorte!
Outro caso que me marcou, foi do estimado Nelson André Saquetti, aquele que vendia bilhetes no extinto Bar do Japonês, esquina da Paraná com Dr. João Cândido Fortes, próximo ao Lar São Vicente; além do que, era um exímio jogador de esnuque, mesmo com as suas limitações físicas.
Com o decorrer do tempo, a sua doença degenerante se agravou e ficou muitos anos na cama onde praticamente pouco se mexia, ficando horas e horas com o corpo estático numa determinada posição. Pessoa maravilhosa que sofreu silenciosamente suas dores por anos a fio.
Ambos, já falecidos e que deixaram saudades.
O cidadão José Trigo de Castro que trabalhou tempo na antiga Telepar era voltado à família e ao serviço, sempre almejando o melhor com retidão e brandura. Há algum tempo se encontra em uma cama, e quem o conheceu no vigor, não se conforma em vê-lo nessas condições.
Mais um caso típico, esse, a pessoa está acamada há oito anos, uma mulher de fibra, grandiosa de espírito e coração. Uma religiosa fervorosa na sua fé e muita determinada, católica convicta, mesmo longe dos templos e sacerdotes. Pela sua estatura e peso, não sai mais da cama. Ali está restrito o seu pequeno mundo.
Tem toda a atenção e carinho de seu filho José Antonio “Zézão do bar” e da família de seu irmão, a viúva de Toninho Teixeira.
Pense numa mulher que, quando estava com a saúde boa, era um pé de boi, como se diz na gíria popular. Irdes, seu nome civil, viúva, costureira aposentada, sempre foi uma dessas ‘criaturas do servir’, uma abnegada, uma voluntária do amor e da boa vontade. Nunca deixou de atender àqueles que lhe procuravam para aplicar injeção numa criança ou idoso. Dava banhos em doentes e falecidos, não tinha preguiça e nem desculpas para o servir e menos ainda, distinção de cor, religião ou raça. Eram todos irmãos no amor ao próximo.
Sempre que posso, vou visitá-la em sua casa. Chego sorrindo e alegre, disfarçando a minha tristeza e incompreensão. Quando saio, fico pensando, como pode uma pessoa do bem, que em vida, enquanto saudável, ajudou tanta gente, estar numa cama, completamente dependente; lutando com os minutos, horas, dias, semanas, meses e anos na árdua sobrevivência?
Têm coisas que fogem do nosso ínfimo entendimento e às vezes não queremos ou mesmo conseguimos compreender. Mas, uma frase do suíço Carl Gustav Jung nos leva para uma reflexão, assim ele diz: “O sofrimento precisa ser superado, e o único meio de superá-lo é suportando-o”.
Creio que para superá-lo e suportá-lo, só mesmo com o auxílio do Senhor; esse é o único meio de aliviar qualquer dor ou sofrimento humano.
Finalizo como comecei, com um trecho da Bíblia, “Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Romanos 8:18).

* Vicentinho é licenciado em historia e bel. em direito.
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