ARTIGO: Falando com Sarney...

* Vicente Estanislau Ribeiro
Já retratei algumas pérolas da política de 1988 para cá.
Hoje vou descrever mais uma do saudoso prefeito, Dr. Adhemar Setti, advogado, político e empresário.
Logo após a sua posse na Prefeitura, a situação encontrada não era das melhores. O slogan de sua campanha: “40 anos em 4”, e sendo assim, não se podia perder tempo algum.
A equipe toda estava muito animada para colocar tudo em ordem e trabalhar com afinco cumprindo as promessas de campanha.
Nos primeiros dias da semana do mês de janeiro de 1989, cada um da equipe, no seu respectivo lugar, se inteirando dos trabalhos a serem executados e o prefeito, Dr. Adhemar, no seu gabinete, tomando ciência do teor da máquina administrativa e concomitantemente despachando com seu assessor, chefe de gabinete.
No início, para alguém falar com o chefe do poder executivo só se fosse uma coisa muito importante, que às vezes só dependia dele, caso contrário, poderia aguardar mais uns dias ou semanas, até tudo entrar nos trilhos normalmente, como se espera duma administração pública.
Ainda na semana inicial da posse, aparecem dois elementos, um deles, com uma pasta na mão e outro com uma prancheta querendo entrar na sala do senhor prefeito.
Quando então, o secretário disse-lhes que naqueles dias o chefe do executivo não podia atender ninguém, e remendou: o assunto é de extrema urgência?
Ambos com a voz uníssona, disseram que ali estavam por solicitação da Prefeitura.
O assessor municipal pediu licença e dirigiu-se ao gabinete dizendo: Dr. Adhemar estão aí duas pessoas que desejam falar diretamente com o senhor. Ele, mergulhado nas papeladas e na burocracia, disse instintivamente sem levantar o olhar, para que os dois aguardassem, que ele estava conversando com o presidente Sarney sobre a vitória do PTB nas eleições municipais.
Como bom subalterno transmitiu o recado do prefeito aos cidadãos visitantes e pediu um momento que assim que, assim que o prefeito terminasse a ligação telefônica com o presidente Sarney, ele os atenderia.
Com cara de espanto, os dois se entreolharam e com um leve sorriso nos lábios, começaram a rir discretamente.
O chefe de gabinete nada entendendo, ficou cabisbaixo e sentou-se à mesa, aguardando o chamamento do prefeito.
Passados uns dez minutos o Dr. Adhemar os autoriza entrar.
Com um caloroso aperto de mão e um bom dia eufórico o prefeito recebe os visitantes e antes de qualquer coisa, o anfitrião pede desculpas pela demora, em virtude de seu telefonema ao presidente da república. E já emendou, o que os rapazes desejam?
Foi quando, um deles, o encarregado, disse constrangido ao prefeito: Doutor, nós somos da Companhia Telefônica, e viemos religar os telefones e verificar os ramais.
Inerte e sem graça, respondeu aos moços, sim, sem os telefones não há como trabalhar, não tem como fazer absolutamente nada.
Vou sair e deixá-los trabalhar à vontade e já estou solicitando à zeladora para trazer um café para vocês. Quaisquer dúvidas podem falar com o meu assessor que ele resolve.
Bom dia e bom trabalho!
No restante do dia, o doutor Adhemar Setti não compareceu ao Paço Municipal, só retornando no dia seguinte, após tudo estar resolvido e os telefones funcionando em perfeitas condições.
Aí, sim, ele poderia falar com o presidente Sarney ou até com o presidente Ronald Reagan dos E.U.A se assim o quisesse, que não seria blefe.

* Vicentinho é licenciado em historia e bel. em direito.
   E-mail: ver_vicentinho@yahoo.com.br
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